Texto por: Angela Walkley (Treinadora Certificada pelo CNVC)
Tradução: Jade Arantes
A Comunicação Não-Violenta entrou na minha vida em 2004 como um conjunto de habilidades que me ajudaria a apoiar meus clientes como uma consultora e facilitadora de desenvolvimento organizacional. Naquela época, eu não poderia imaginar o papel que a CNV iria ter na transformação da minha vida e dos meus relacionamentos mais íntimos.
E nem que iria me conduzir ao meu papel de compartilhar a CNV e apoiar novos treinadores.
Quando meus dois filhos eram pequenos, eu me encontrei questionando a vida...
Naquela época, eu estava prosperando como a dona de um negócio privado, facilitando processos de decisão inter-governamentais bastante complexos no Yukon (região no Canadá). Eu era uma integrante ativa em minha comunidade, e adorava aventuras silvestres com família e amigos, e tinha uma casinha aconchegante que eu amava.
Ainda assim, eu conseguia perceber uma busca interior por algo mais profundo em minha vida.
Meu marido, agora também treinador de CNV, estava passando por uma experiência paralela. Ele estava anseando por independência, liberdade, auto-expressão e por sentir uma energia de vitalidade e vivacidade.
Nós já estávamos juntos há 13 anos. Treze anos em que tentávamos ser a pessoa que o outro gostaria que nós fossemos. Partes de nós que escondemos ou negamos estavam querendo ser vistas. O conflito entre nós aumentou.
Nós atingimos um momento de crise que não conseguíamos superar. Eu senti o chão desmoronando sob os meus pés.
Comecei a sentir uma resistência em continuar sustentando a ilusão de ser uma líder capaz e competente. Eu me orgulhava de mim mesma por ser transparente e autêntica, mas não sabia como abrir espaço para os outros e ao mesmo tempo lidar com as realidades internas da minha situação.
Nós não sabíamos se iríamos permanecer juntos. Por um período de tempo, não permanecemos. Ainda assim, sabíamos que mesmo separados, seria importante termos habilidades de estarmos em uma relação para a vida, criando juntos os nossos filhos.
Buscamos apoio na CNV e, para nossa surpresa, começamos a construir pontes em meio à nossa desconexão. Começamos a escutar um ao outro, e a curar o nosso relacionamento.
Em meio de muitas transições, a CNV me ajudou a descobrir que eu era uma integrante do pensamento “certo/errado”, uma “perfeccionista”. Eu esperava que os outros se enquadrassem na minha visão sem que eu precisasse dizer nada. Deixando meu companheiro pisando em ovos, se esbarrando em expectativas não ditas, e enfrentando o meu desapontamento e minha desaprovação.
Me trouxe bastante humildade descobrir como esse padrão me acompanhava e como era para o Mitch (e outros) conviver com ele. Esse padrão também me machucava, já que estava constantemente me julgando na mesma intensidade.
Falar a nossa verdade um para o outro foi desafiador no início. Após anos escondendo partes de nós mesmos, foi difícil descobrir qual era essa verdade, e ainda mais difícil dizê-la em voz alta. Ainda assim, essas revelações nos trouxeram intimidade e força. É algo poderoso, aparecer com todo o seu ser, e ser visto.
Foi chocante o quando a CNV me ofereceu um alinhamento com a maneira que eu gostaria de conduzir o trabalho que eu faço, minha abordagem à transformação social, a maneira que eu crio meus filhos, cuido de minhas relações, navego minhas descobertas de mim mesma e em trazer coerência entre minhas ações e crenças espirituais.
Eu nunca fui alguém de me aderir à uma única modalidade de fazer as coisas. Eu valorizo o pensar independente e inovador. Ainda assim, encontrei em mim uma paixão pela CNV que me manteve dedicando os últimos 6 anos da minha vida à compartilhá-la.
Você pode me perguntar se a CNV faz alguma diferença no lado prático das coisas. O que eu estou ensinando exatamente? A CNV me apoia à:
Aceitar a responsabilidade pelo impacto que eu tenho em outros e não engajar em dinâmicas de ou culpar ou vitimizar uns aos outros;
Decifrar o que está acontecendo com outros mesmo quando eles falam através de julgamentos, culpabilizações ou expectativas, particularmente quando alguém diz algo que é especialmente difícil de escutar. A CNV nos permite ouvir a outra pessoa sem levar as coisas para o lado pessoal;
Me expressar de maneira clara, de forma a construir compreensão e confiança. Quando eu tenho uma mensagem difícil a compartilhar com alguém, eu sei como fazê-lo de maneira centrada e cuidadosa;
Incorporar uma presença de liderança: auto-conectada, curiosa e aberta. Eu sei como me abrir e me manter curiosa quando as coisas ficam difíceis.
Transformar meu próprio julgamento, culpabilizações e expectativas em auto-responsabilidade. Transitar para fora do pensamento comum de “certo/errado” em direção à valorização das necessidades de todos os indivíduos.
Construir acordos e usá-los como fundação para colaboração. A CNV cria caminhos para compreensão mútua e acessa criativamente como co-criar soluções baseadas naquilo que realmente importa para todos.
Transformar conflitos. Eu sou capaz de apoiar outros a desvendar o que realmente importa para eles, e em maneiras de compartilhar que possam efetivamente ser escutadas entre si.
Se relacionar com o conflito como uma fonte de aprendizado, crescimento e inovação. As conversas e trocas a partir da consciência da CNV enriquecem ambientes de trabalho, comunidades, grupos e os nosso relacionamentos mais próximos.
Eu estou muito feliz em ir para o Brasil pela primeira vez para viver as Jornadas de CNV em Junho e me conectar com a comunidade local.
Para mais informações das jornadas, acesse os links abaixo:
Commentaires