Sem dúvida a educação nos apresenta inúmeros desafios. Lidar com seres humanos em desenvolvimento, sejam eles pequenos ou não, é uma tarefa que exige bastante daqueles que se dedicam a ela. E certamente, situações de violência, bullying, entre outros aumentam ainda mais a complexidade desse cenário educativo.
Uma vez escutei em uma palestra do TedTalks uma diretora de escolas muito violentas que relatava que ao chegar nessas escolas, que pareciam mais com prisões, ela se espantava. O que poderia fazer diante de tal situação? Em que alunos precisam ser literalmente trancados em sala de aula para permanecerem ali dentro, seguros. Em que os corredores, armários, cadeiras da escolas estavam numa situação lastimável. Ao conversar com os professores da escola para entender melhor o que estava acontecendo ali dentro vieram queixas como “Eles não cuidam dos materiais!” “Vem de famílias desestruturadas e por isso são assim!” “Não tem motivação nenhuma para estudar, estou cansado disso!” “A escola não tem recursos!”.
A diretora disse algo então que nunca vou me esquecer. Depois de dar espaço para ouvir todas as queixas dos professores, ela disse: “E daí? E agora?”. Com isso, ela me lembrou algo muito importante.
Precisamos sim reconhecer nossas dores, aquilo que está realmente ruim e faltando em nossas escolas, em nossa prática pedagógica. E depois disso precisamos nos perguntar “E agora?”, o que eu faço com isso? Não no sentido de encontrar respostas prontas de uma só vez, mas como nós podemos dar pequenos passos em direção à educação que realmente acreditamos ser possível?
No caso dessa diretora, o primeiro pequeno passo foi limpar a escola. Ela organizou com os professores e alunos um mutirão para retirar cadeiras quebradas, limpar o chão, armários e paredes, descartar materiais inutilizáveis. Depois disso, o segundo pequeno passo foi decorar a escola. Trazer vida para os murais e corredores com cores, com os trabalhos dos alunos. Apenas isso, ela relata, já gerou uma mudança incrível na sensação de pertencimento das pessoas que ali estudavam e trabalhavam. Isso significa que todos os problemas de motivação e violência foram resolvidos? Não. Mas foram pequenos passos, que permitiram mais pequenos passos para se aproximarem cada vez mais da escola que queriam construir.
Frequentemente percebo que
as estratégias que temos para lidar com as situações estão limitadas ao que conhecemos como possível.
Quem poderia imaginar que limpar a escola eventualmente levaria a uma série de outras ações que resultariam na transformação daquela escola violenta em uma escola referência na região? Procuramos por estratégias que resolvam efetivamente os nossos grandes problemas, pois o anseio por soluções é vivo e latente. Mas muitas vezes as grandes mudanças começam com singelas aberturas para criatividade e a co-criação. Sair um pouco dos caminhos conhecidos para explorar, juntos, como aos pouco chegamos mais perto da educação que realmente queremos ver no mundo.
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Autoria: Luciana Dantas.
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