As últimas semanas foram pesadas.
Seja outro tiroteio, a floresta amazônica em chamas ou o mar do nordeste tomado por óleo, pode parecer avassalador ficar a par do que está acontecendo, mas ainda assim impossível desviar o olhar e desconectar. Muitas das pessoas que conheço atualmente não estão dormindo bem; elas têm problemas para se concentrar no trabalho. Elas estão com raiva, sem esperança ou em desespero. As notícias tomam conversas com amigos e entes queridos.
Em uma era de conexão on-line, os números recorde de pessoas parecem deprimidas, sozinhas e alienadas. De muitas maneiras, estamos passando por uma vasta experiência social: é perigoso para um grande número de pessoas absorver notícias perturbadoras sozinhas?
Dada a intensidade de nossos tempos, é essencial encontrar equilíbrio em relação aos eventos atuais para que possamos permanecer engajados e enfrentar os desafios que enfrentamos. Aqui estão cinco dicas de como ajudar a manter a sanidade em relação ao ciclo de notícias.
1. Reconheça a natureza viciante das notícias
Em primeiro lugar, saiba com o que está lidando. Lembre-se de que a mídia é uma indústria que depende da publicidade e da audiência para sobreviver. (Mesmo as notícias públicas que são apoiadas pelos seus clientes dependem de manter os ouvintes e os leitores envolvidos o suficiente para que eles queiram fazer doações.) Seja lucro ou doações, o incentivo monetário geralmente gera sensacionalismo; valores como utilidade, precisão e ética geralmente têm prioridades mais baixas. Violência e intensidade vendem; bondade e estabilidade não.
Na próxima vez que você estiver consumindo horas de notícias, lutando para exercer sua capacidade de escolha sobre quantas vezes você verifica o feed ou liga as noticias, lembre-se de que isto foi desenhado para mantê-lo viciado. Tenha tudo isso em mente ao escolher o que vai absorver, quando e por quanto tempo.
Violência e intensidade vendem; bondade e estabilidade não.
2. Conheça o seu objetivo
Por que você está lendo as notícias? Qual é o seu propósito?
A democracia é um experimento do compartilhamento do poder, e compartilhar o poder de maneira significativa exige que os cidadãos sejam informados. No entanto, o conceito de ser um “cidadão” se atrofiou, tornando-se mais um esporte de espectadores do que um papel ativo. A mídia contribui para esse sentimento de ser um observador passivo assistindo a um "show". Seu objetivo se tornou distorcido para entretenimento e excitação, em vez de fornecer informações úteis.
E se assistir as notícias fizesse parte de nossa responsabilidade cívica no verdadeiro sentido da palavra: apoiar nossa capacidade de responder?
Quando nos voltamos para o sofrimento com um coração cuidadoso e equilibrado, nasce uma resposta compassiva. A questão não é levar-nos a um estado de desespero ou paralisia; é acordar para a realidade para que possamos responder a ela.
3. Modere o seu consumo
Um relacionamento inteligente com as notícias inclui avaliar qual quantidade de informações apoia a sua capacidade de responder. Ter uma escolha em torno da exposição a notícias dolorosas é, por si só, um privilégio. Podemos levar esse privilégio a sério e fazer escolhas conscientes sobre o quanto consumimos as notícias.
Como e quando você vê suas notícias? Qual é a sua intenção ao ler ou assistir algo? Você verifica seu feed de noticias assim que acorda? Como isso afeta sua mente? Se for útil, tente criar algumas diretrizes para si mesmo:
• Por uma semana ou mais, siga algumas das principais questões que sejam importantes para você, deixando outras notícias de lado por um tempo.
• Defina um limite de tempo diário para quanto tempo você deseja gastar consumindo notícias.
• Equilibre sua visão procurando histórias e feeds positivos.
• Faça uma “desintoxicação digital” uma vez por semana, mantendo-se fora dos dispositivos e fazendo coisas que lhe nutrem.
4. Faça o seu momento de olhar para as notícias uma prática de mindfulness (atenção plena)
A atenção plena é um poderoso aliado para encontrar equilíbrio em relação aos eventos atuais. Transforme o ate der ver noticias em uma prática de consumo consciente, observando todo o processo e tomando medidas para se manter equilibrado.
Observe toda a experiência do começo ao meio ao fim. Tente tomar consciência do impulso de verificar as notícias. É consciente ou compulsivo? Como você se sente antes de abrir o telefone, o computador ou ligar o rádio/TV? Que pensamentos e emoções estão presentes? Existe ansiedade, pressa, interesse, exitação? Você não precisa mudar o que está acontecendo; simplesmente fique atento e se observe para que você possa começar a aprender mais sobre onde e como se engatilha.
Ao começar a ler, visualizar ou ouvir as notícias, preste atenção ao que acontece. Você está ciente do seu corpo? Você está prendendo a respiração? A mente começa a acelerar? Você consegue manter a sua presença entre uma história ou artigo para o próximo? Observe o impacto que cada imagem ou título tem em seu coração. Como você está se sentindo?
Esteja disposto a se dar tempo e espaço para digerir sua experiência. Pause. Respire. Verifique com o seu coração: “Isso é suficiente por enquanto? Eu tenho mais espaço para absorver? ”
Ficar equilibrado não significa que paramos de sentir nossas emoções ou não reagimos quando a tragédia ocorre.
Isso significa que estamos em contato com o nosso coração o suficiente para reconhecer quando precisamos dar um passo atrás e nos dar espaço para curar.
5. Construa uma comunidade e se envolva
A ideia de uma democracia participativa é que precisamos participar. A ação sábia alivia a ansiedade. O medo e a ansiedade que sentimos em uma crise estão lá para ajudar a mobilizar nossos recursos. Quando temos algo a fazer em resposta, acessamos nossa capacidade de ação e poder.
Escolha uma área que lhe interessa e encontre maneiras de se envolver. Isso significa continuar se educando sobre os problemas, quem está envolvido no momento e o que eles precisam. Envolver-se pode ser fazer algo sozinho (doando dinheiro, entrando em contato com seus representantes) ou com outras pessoas (ingressando em uma organização ou movimento local).
Por fim, uma das coisas mais protetoras durante esses tempos é a construção de comunidades. Há força em números, e grande consolo e cura em conectar-se. Para combater os efeitos negativos do isolamento social, entre em contato com amigos e familiares. Reúna-se regularmente com outras pessoas. Reserve um tempo para uma diversão casual e uma discussão mais sincera sobre o que está acontecendo e como você se sente.
Os problemas que enfrentamos hoje são maiores do que qualquer um de nós pode resolver. Eles podem ser maiores do que qualquer um de nós pode enfrentar sozinho.
Quanto mais pudermos construir comunidade e fortalecer nossas conexões uns com os outros, mais recursos teremos para responder em tempos de crise.
Texto de: Oren Jay Sofer
Traduzido por: Nolah Lima
Oren Jay Sofer ensina retiros e oficinas de meditação e comunicação nos Estados Unidos. Membro do Conselho de Professores da Spirit Rock, é instrutor certificado de Comunicação Não-violenta pelo CNVC e praticante de experiências somáticas na cura de traumas. Oren também é formado em Religião Comparativa pela Columbia University, é o fundador do Next Step Dharma e co-fundador da Mindful Healthcare. Ele é o autor de “Diga o que você quer dizer: uma abordagem consciente da comunicação não-violenta” e co-autor do currículo das escolas conscientes para adolescentes e do ensino da atenção plena para capacitar os adolescentes.
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