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Empatia 5.0


empatia

Ouvi falar de EMPATIA pela primeira vez quando comecei a trabalhar com RH. A definição que usávamos era “entendermos o que o outro sente”. Dizer “tenha empatia” era o mesmo que dizer “compreenda que ele está passando por algo difícil” e ser empático era tal qual deixar o outro em paz e seguir o seu caminho considerando os sentimentos daquela pessoa.


Imagine o quanto isso nos ajudou a ser mais produtivos e compreensivos! Foi um marco no uso dos jargões empresariais e um ponto de virada para conseguirmos dar espaço e compreender nossas diferenças. Algo que nos trouxe, por anos, um belo desenvolvimento no relacionar.


Ainda assim, depois de anos utilizando o jargão, encontrei desafios enormes nos relacionamentos dentro da empresa. Fui percebendo um vazio residual de minhas conversas e de meus colegas de trabalho que não conseguia desvendar de onde vinha. Hoje posso dizer que esse vazio se explica por um conceito mais profundo de empatia


Para não me prender a definições, digo que a empatia nesse conceito profundo mora no lugar onde o vazio acaba (uma dica ótima para sabermos se estamos sendo ou não realmente empáticos).

Mas para compreender o que é esse lugar que parece tão abstrato, mais fácil começarmos pelo que NÃO É EMPATIA:


Se seguirmos a lógica de “se colocar no lugar do outro” o que tende a acontecer é sentirmos “pena”.

A pena nasce do papel que vestimos: o "Salvador". Eu "sei o que o outro passa" então posso "salvá-lo". Que armadilha! Por mais que nossa experiência possa somar à nossa compreensão, somos observadores tão distintos desse mundo (interpretamos o que nos acontece de forma tão diferente), que não há em um mesmo fato, uma mesma experiência sendo vivida por duas pessoas.


Vestindo o papel do "salvador" ao invés de abrirmos espaço para escutar, aconselhamos dizendo ao outro "o que deveria fazer" escondendo ao fundo uma grande resistência de ver o sofrimento que está ali; ou ainda, tiramos o outro do que está vivendo dizendo "isso vai passar", para mais uma vez rapidamente tirá-lo desse lugar.


Como "salvadores" podemos nos lembrar de nossas histórias e acabar por sobrepor o que vivemos contando o que nos aconteceu dizendo "isso me lembra quando..." ou até nos encontrando com a soberba (tão difícil de admitir), contando para o outro o quão pequeno é o que ele está vivendo comparado ao que você viveu.


A "pena" ou o medo de vermos o sofrimento do outro pode chegar de maneira tão intensa que nos acenda a intenção de cuidar e consolar dizendo "não foi culpa sua". Ou ainda a intenção de educar, mostrando o que o outro "pode aprender com isso".


Para evitar lidar com o sofrimento que está alí, nos distanciamos dos verdadeiros sentimentos e necessidades do outro.

Evitando nos misturarmos ao que está acontecendo no mundo emocional do outro, encontramos maneiras sutis de nos distanciar, caminhando, por exemplo, para estratégias de interrogar com a intenção de saber tudo, ou até corrigir a perspectiva do outro, trazendo fatos ou analisando. 


Ou ainda o caminho extremamente oposto onde entramos tanto em contato com o mundo emocional, que deixamos mais uma vez de escutar e nos fundimos dizendo "isso é tão triste mesmo..." chorando junto e nos distanciando mais uma vez do que é mais importante alí.


Todas essas são formas de NÃO vivermos a empatia profundamente.

O que chamamos de Empatia 5.0 é o esforço consciente que faço ao procurar compreender o que se passa com o outro, aceitando seu sofrimento, legitimando e escutando o que é verdadeiramente importante para ele e sendo ponte para seguir com mais clareza.


É o lugar que tomo para ser capaz de conectar com a experiência do outro, respeitando a forma como ele a vive, É ser curioso para escutar suas necessidades não atendidas. e ser ponte para preencher o vazio do outro sem precisar ser maior, simplesmente acompanhando.


E, por fim, o "desde onde" acompanho o outro é o que realmente importa. A profunda conexão com a humanidade e curiosidade quanto às mensagens do sofrimento do outro e às necessidades dele naquele momento. 

A empatia, dessa forma, é um estado atento, curioso e dedicado a escuta profunda. Diferente do que encontramos no dicionário, a palavra empatia chega para traduzir algo que tanto necessitamos: compreensão, respeito e legitimação.


Quando percebo essas necessidades, o vazio acaba, os bloqueios para ação se desfazem e a partir dessa conexão, podemos tornar a vida mais maravilhosa.

Autora: Liliane Sant'Anna

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