Quantas vezes você já pensou “Eu tenho que fazer isso” ou “Não tem jeito, preciso fazer isso e pronto! Nem adianta reclamar.”? É péssimo sentir que não temos escolha, não é? Nos contamos que "assim é a vida", que não podemos viver só fazendo aquilo que queremos e que nos dá prazer...Hum..Será?
A CNV faz um convite um tanto inquietante para diferenciar o que escolhemos do que somos “obrigados” a fazer.
Vou dar um exemplo. Por muito tempo, acreditei que era obrigada a esperar por um médico que sempre atrasava. Todas as vezes que consigo me lembrar, marcava uma consulta com qualquer médico, tinha a experiência de chegar na hora e ser atendida entre trinta minutos a quatro horas depois que chegava. Eu ficava possessa! Morrendo de raiva, indignada com aquela situação, com a falta de respeito com o meu tempo, querendo reclamar e sair dali porque era um absurdo! Ufa… Mas o que acontecia de fato? Eu ficava lá, esperando. Porque achava que não tinha escolha, pensava “Ah, todo médico é assim. É sempre assim.”
Até que chegou um dia que não aguentei mais, e minha consciência das necessidade por trás da raiva me levou a pensar algo que não tinha pensando ainda “Eu não sou obrigada”. Saí do consultório do último médico que tinha atrasado, e fui procurar outro. E não é que eu achei uma médica incrível, e pontual! Descobri que perdi tanto tempo me dizendo que eu não tinha escolha, sem saber que, na verdade, eu sempre tive.
A ideia de, mesmo quando eu me conto que “tenho que fazer algo", talvez, no fundo no fundo, eu tenha escolha, é revolucionária!
Imagine como sua vida mudaria se você e as pessoas à sua volta reconhecerem as escolhas que fazem ao invés de se manterem presas na noção do "tenho que"? Acredito que veríamos mais transformações no mundo e mais pessoas plenas e livres.
Marshall Rosenberg, em seu livro "Comunicação Não-violenta", compartilha sua experiência. Ele fala que na sua atuação como psicologo clínico ele odiava fazer relatórios, mas fazia por que tinha que fazer. Ao refletir sobre suas necessidades, isto é, o que ele buscava atender ao fazer o relatórios clínicos, ele percebeu que fazia isto para conseguir manter sua prática como psicólogo e que essa era uma estratégia para a sua sustentabilidade financeira. Ao reconhecer isto, ele decidiu parar de clinicar e começou a dirigir um táxi. Esta decisão anos depois lhe apoiou a escrever o livro sobre CNV.
Agora, não é fácil soltar o nosso "dever" em parte porque quando assumimos que fazemos uma escolha, estou ao mesmo tempo assumindo as responsabilidades dela.
O "tenho que" nos traz o peso da "não escolha" e a leveza muitas vezes da "não responsabilidade".
Para fechar, vou lhe convidar refletir comigo:
Onde fico sem querer estar? Para que estou dizendo que "tenho que"?
Ao fazer isto, o que estou buscando preservar ou ganhar?
Como me sinto ao reconhecer as necessidades que quero atender?
Com esta consciência, gostaria de escolher outra estratégia neste momento?
Para acessar a lista de necessidades humanas universais, clique aqui:
Que este texto lhe traga provocações saudáveis e lhe auxilie a soltar o "dever" e acolher o "escolher" em seu dia a dia.
Obs: O tema de escolhas também toca em uma dimensão sistêmica - existem limitações sociais e estruturais que não dão acesso à escolha para muitos. Acompanhe a nossa newsletter para receber a próxima leitura que aprofundará essa dimensão.
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