Um conflito faz uma fotografia ficar gravada em nossa memória, uma imagem parada que retrata parte importante dos julgamentos que construímos sobre outra pessoa (ou até sobre nós mesmos). É como um caminho mais fácil para se lembrar de que há um potencial para nos machucarmos ali ou ainda, há algo que não gostaríamos que acontecesse de novo.
Revivemos em nossa memória, conscientemente ou em nosso subconsciente, o conflito que nos marcou, a cada nova interação com aquela pessoa que decidimos manter em nossas vidas.
Parece que endurece, perde a fluidez e a leveza na relação, como se precisássemos nos conhecer de novo depois que um conflito acontece. Uma sensação de que nada vai ser igual. E não é?
Cada pós-conflito é um processo de REconhecimento. É fazer a foto virar filme aos poucos e, por isso, o tempo… Ah! O tempo!
Filme não se faz em uma película. Precisam muitas pequenas histórias para construir uma narrativa consistente. E é esse o desafio da confiança: precisamos de muitas novas histórias para passar a confiar.
Mas o machucado mexe com necessidades muito importantes para todos nós. Queremos segurança, cuidado, conforto, paz, harmonia e queremos ser vistos. É duro o caminho que os pensamentos fazem ao reconhecer que essas necessidades podem não ser atendidas.
Construímos maneiras muito consistentes de nos afastar da dor, criamos imagens de um inimigo ("o outro") que tem intenção de nos ferir, nos enraivecemos e distanciamos para nos proteger. E perdemos, junto com esse movimento, a necessidade que mais buscávamos: a conexão e parceria para nutrirmos todas aquelas necessidades juntos.
Parece complexo, mas é muito simples, nos defendemos para que não doa mais agora, mas, no fim, acabamos nos distanciando do que mais gostaríamos.
“O que resiste persiste” diz Julio Olala. Resistimos à dor e a dor permanece.
É o tempo que também nos traz de volta a dor que não nos permitimos sentir, o conflito que não foi aberto, o não dito. O tempo é cura de qualquer maneira, seja por que explodiu, seja por que passou. Tudo depende do caminho que escolhemos.
Não tem tempo certo ou tempo errado, tem o que é possível. E você está verdadeiramente consciente do que é possível? Um pequeno conflito aberto hoje, pode ser um conflitão daqui a alguns dias, caso fique guardado. Então, tempo agora é tempo de ouro!
Gerar conflito é uma habilidade para nutrir muitas necessidades mais pra frente, e é essa uma das magias da CNV. Marshall dizia “Eu não escuto o que o outro pensa, conecto com que o outro sente, o que precisa”.
E até para isso, em alguns momentos precisamos de tempo.
Autora: Liliane Sant'anna
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