Somos seres relacionais. Vivemos em uma grande rede de relacionamentos, que incluem as nossas relações mais próximas e íntimas, com quem compartilhamos o dia-a-dia; aquelas pessoas com quem interagimos frequentemente, às vezes, até diariamente, mas que não estão em nosso círculo mais íntimo (colegas de trabalho, círculos sociais, amigos não tão próximos) e, ainda, estranhos com quem temos interações rápidas, mas que, em segundos, podem dizer ou fazer algo que impacta significativamente o nosso estado emocional (no metrô, em alguma loja ou no trânsito). E, qualquer perturbação em algum destes relacionamentos, pode reverberar em nossa estrutura relacional, afetando, também, outras relações.
O nível de impacto desta perturbação vai depender da proximidade que temos com esta outra pessoa, de como as nossas necessidades mais vitais estão sendo tocadas, e do nível de conexão entre nós, necessária para encontrar caminhos possíveis que cuidem do que realmente nos importa. Assim, uma interação que você tenha no trânsito pela manhã pode afetar o seu dia e a sua comunicação com as demais pessoas da sua rede, mas, certamente, menos do que se você tiver brigado com o seu parceiro no café da manhã, em que você se percebe pensando nas palavras ditas e ouvidas pelo resto do dia, chateado e incapaz de se concentrar em seu trabalho.
Por vezes, a depender de como está a sua habilidade de lidar com interações desafiadoras, situações de pequenos desgastes vão desencadeando conflitos insustentáveis, seja minando a conexão diariamente, durante longos períodos de tempo, ou, de uma hora para a outra, escalonando a desavença de forma exponencial, numa espiral crescente e desastrosa.
Nestes momentos de estresse, comum em cenários de conflito, o mais acessível é recorrer aos velhos e instantâneos mecanismos de defesa: luta, fuga ou congelamento no corpo! É provável que você, frente a algum conflito com o seu parceiro, tenha instantaneamente escolhido reagir e fazer uso daquela lista de acusações que você vem colecionando em sua mente, dia após dia, nos últimos cinco anos... Ou, na iminência daquela conversa difícil no trabalho, você tenha percebido que se aproximava das 18h e tenha saído rapidamente da sua sala, informando que, naquele dia, não poderia se atrasar... Ou, ainda, após ouvir a notícia inesperada sobre a perda de um ente querido ou da quebra de confiança em alguém muito importante na sua vida, você tenha entrado numa espécie de choque. Uma destas possibilidades ou algo parecido já aconteceu com você?
É natural que, sem recursos internos para lidar com situações como esta, a luta, a fuga ou o congelamento no corpo surja de forma instintiva, como forma de nos proteger de algum perigo percebido. Você pode imaginar animais na selva, à beira de um ataque... certamente eles vão escolher um destes três mecanismos de defesa, por serem os únicos meios por eles conhecidos.
Esses mecanismos podem, sim, em determinadas situações, serem bem-sucedidos em nos manter seguros e protegidos. A questão é que, o custo disso, a longo prazo, e principalmente em relacionamentos duradouros, pode ser muito elevado, desgastando mais e mais a confiança e a intimidade nas relações e tornando a comunicação disfuncional, seja pela quantidade de acusações e julgamentos expressados para o outro ou para si mesmo, seja pelos não-ditos acumulados ao longo da vida.
A boa notícia é que nós, seres humanos dotados de capacidades inatas e outras a serem desenvolvidas, podemos escolher agir de forma diferente ao lidar com os conflitos do nosso dia-a-dia, e a Comunicação Não-Violenta, desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, pode contribuir substancialmente para que tenhamos acesso à essa escolha, no momento em que os desafios nas relações surgem.
Estarmos mais capazes de acessar a escolha de como iremos agir, significa termos mais facilidade em acessar os nossos recursos internos. Esses recursos, que podem ser trabalhados com a prática da auto-conexão, apoiam a expressão honesta de nossa experiência, e preservam a nossa capacidade de empatizar com o outro, permitindo assim, maior fluidez e centramento em conversas difíceis.
Mas o que fazer no momento de uma interação difícil, para não reagir a partir de um dos mecanismos de defesa citados anteriormente? O nosso sistema límbico cerebral tem como uma de suas funções analisar se as informações que recebemos pelos nossos sentidos configuram alguma ameaça. Essa análise se dá em poucos segundos, então nos primeiros instantes em que algo nos engatilha, nós podemos nos fazer algumas perguntas de forma a apoiar o nosso sistema a não entrar em modo reativo:
O que estou sentindo agora?
De que realmente preciso agora?
O que me faz acreditar que essa pessoa quer me machucar?
O que eu gostaria que acontecesse agora?
O que é mais importante nesse momento para mim?
Que resultado eu quero alcançar ao final dessa conversa?
Qual é a minha intenção neste momento?
Ao praticar essas perguntas, você irá perceber gradualmente, que a sua habilidade para responder no momento presente à interações de alta intensidade emocional irá se fortalecer. Essa habilidade interrompe o padrão que temos de acumular frustrações cotidianas, prevenindo momentos de escalonamentos exponenciais de conflitos, e preservando a qualidade da conexão nos relacionamentos. E, caso essas perguntas não sejam possíveis para você no momento de tensão, contar até 10 continua sendo uma boa estratégia.
A partir desse norte, é possível seguir o caminho de desenvolvimento de capacidades para se relacionar consigo mesmo e com os outros, especialmente em momentos de extrema vulnerabilidade, quando você acha que não há esperança, transformando o conflito em uma linda oportunidade de conexão.
E, considerando o impacto que as relações têm no nosso bem-estar, entendemos como necessário e urgente o aprendizado de habilidades relacionais para lidar com situações de alto estresse, transformando-as em caminhos possíveis, de forma a cuidar daquilo que é importante para si e para o outro, e nutrir relacionamentos saudáveis e sustentáveis a longo prazo.
E você?
Como você reage quando é confrontado por um conflito?
Como é para você apoiar outras pessoas que estão em um conflito?
E... como você lida com conflitos internos?
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Autora: Cristiane Chaves
Colaboração: Jade Arantes
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