Agressividade no trabalho: vilã ou força a ser cultivada?
- Equipe ICNVB
- 23 de abr.
- 4 min de leitura

Quando você ouve a palavra agressividade no ambiente de trabalho, o que vem à mente?
Depende.
Em muitos lugares, "ser agressivo" é visto como algo positivo: um elogio para quem é competitivo, destemido e corre atrás das metas sem hesitar.
"Precisamos ser agressivos para bater as metas." ou "Falta mais agressividade nesse time."
Mas, em outros contextos, a agressividade carrega um estigma negativo:
"Ser agressivo é ser bruto. É ser desrespeitoso. É ultrapassar limites."
No fundo, agressividade é uma palavra controversa – celebrada e condenada ao mesmo tempo.
E esse é o ponto: não é a agressividade em si que é boa ou ruim. Tudo depende de como ela é compreendida e como ela é expressa.
🔹 O que acontece quando, tentando evitar a violência, perdemos também a agressividade saudável?
🔹 O que acontece quando as pessoas deixam de afirmar suas necessidades, seus limites e seus valores?
Jean-Marie Muller, no livro O Princípio da Não-Violência, propõe uma visão surpreendente: a agressividade é uma força natural e necessária. Ele compara a agressividade ao fogo:
"A agressividade é uma das energias que, como o fogo, pode ser maléfica ou benéfica, destruidora ou criadora."
Ou seja, o problema não é a agressividade em si, mas como a canalizamos – especialmente em ambientes onde existem relações de poder, metas de alta performance e diferenças de interesses.
Agressividade x Violência: entender a diferença muda tudo
🔹 Agressividade é a força vital que nos impulsiona a agir, afirmar nossa existência e defender nossos direitos.
🔹 Violência é quando essa energia é usada para ferir, controlar ou destruir o outro.
No ambiente de trabalho, essa distinção é vital.
Se confundimos agressividade com violência, abrimos duas armadilhas:
Reprimir toda forma de assertividade – criando ambientes passivos, onde conflitos são varridos para debaixo do tapete.
Justificar comportamentos violentos – normalizando abusos sob o pretexto de "espírito competitivo".
O maior risco é que, na tentativa de não sermos violentos, acabemos paralisados, sem energia para nos mover ou colocar limites.
Perder a agressividade saudável é perder também a capacidade de dizer "eu existo", "eu preciso", "isso importa para mim.".
Agressividade e violências estruturais no trabalho
Em ambientes profissionais, não reconhecer as estruturas de poder e desigualdade pode fazer com que a agressividade, quando não bem compreendida, se manifeste de forma distorcida.
Jean-Marie Muller nos lembra:
"Na realidade, diante de uma injustiça, a passividade é a atitude mais disseminada, muito mais do que a violência. A capacidade dos homens de resignar-se é consideravelmente maior do que sua capacidade de revoltar-se... A não-violência pressupõe, antes de tudo, ser capaz de mostrar agressividade."
Em outras palavras: não é a ausência de agressividade que constrói ambientes justos – é a sua expressão consciente e não-violenta que nos permite agir diante de discriminações, silenciamentos e desigualdades.
A agressividade não-violenta é, portanto, um movimento contrário à submissão e à paralisia, que tantas vezes permitem a perpetuação de injustiças dentro das organizações.
No trabalho, essa energia pode ser vital para:
Defender limites com respeito.
Denunciar práticas excludentes ou discriminatórias.
Suscitar a energia necessária para proteger a dignidade e a vida humana em contextos de poder.
A raiva e a indignação – quando canalizadas com consciência – se tornam aliadas na construção de ambientes mais éticos, seguros e inclusivos.
Os desafios da agressividade no trabalho
No ambiente profissional, especialmente em estruturas hierárquicas, a forma como a agressividade é expressa pode gerar distorções:
🔹 Liderança autoritária: Quando a agressividade de líderes não é bem administrada, ela pode virar microgerenciamento, humilhações públicas ou criação de ambientes de medo.
🔹 Comunicação passivo-agressiva: Quando colaboradores sentem que não podem se posicionar de forma saudável, a agressividade se manifesta de forma indireta – atrasos, boicotes silenciosos, ironias.
🔹 Silenciamento de talentos: Ambientes que não acolhem a expressão assertiva acabam sufocando ideias inovadoras e gerando desmotivação.
Saber usar a agressividade com consciência é fundamental para criar um espaço de trabalho saudável, inovador e colaborativo.
Comunicação Não Violenta: canalizando a agressividade com consciência
A Comunicação Não Violenta (CNV), desenvolvida por Marshall Rosenberg, oferece um caminho prático para transformar a agressividade em conexão:
Em vez de atacar ou reprimir, a CNV propõe quatro focos de atenção a expressar seu ponto de vista:
Observar sem julgamento: "Nas últimas reuniões, notei que aconteceu mais de uma vez de interrompermos uns aos outros ao falar."
Expressar sentimentos: "Percebo que fico incomodado."
Nomear necessidades: "Considero importante termos espaço e garantirmos que as pessoas estão sendo entendidas."
Fazer um pedido específico: "Podemos combinar de esperar a pessoa terminar de falar antes de responder? Ou criar um sistema de levantar a mão? Quero pensar junto, o que acham?"
Assim, a agressividade é usada para afirmar limites e necessidades, sem ferir o outro.
Conclusão: no trabalho, a agressividade bem direcionada é aliada da saúde e da inovação
🔥 Como o fogo, a agressividade pode aquecer ou destruir. Tudo depende de como escolhemos cultivá-la.
No contexto profissional, reconhecer e direcionar a agressividade é essencial para:
✔ Incentivar a inovação e a troca genuína de ideias.
✔ Fortalecer equipes com comunicação assertiva e respeitosa.
✔ Evitar o ciclo de repressão e explosão que desgasta relações e talentos.
✔ Combater violências estruturais e criar espaços mais justos e inclusivos.
A Comunicação Não Violenta é a ponte que transforma a agressividade em uma força construtiva, capaz de criar ambientes de trabalho mais humanos, produtivos e saudáveis.
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📌 E você? Já viveu situações em que a agressividade foi mal interpretada no trabalho? Ou viu ambientes melhorarem quando a comunicação foi mais consciente? Vamos conversar nos comentários!
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