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Conexão em liberdade

Me lembro como se fosse ontem, o final do quinto dia de um treinamento intensivo em CNV que estava acontecendo em Port Aransas, uma ilha do Texas. Era por volta de 10 horas da noite. Estávamos caminhando na praia e, enquanto conversávamos, a água que estava quentinha cobriu, feito carinho, o meu pé.

Ah, mas aquilo me chegou como um convite. Peguei o celular, pedi à Kathleen que estava ao meu lado para segurar, e saí correndo para dentro do mar.


Enquanto mergulhava e sentia as roupas molhadas tocando o corpo, com uma qualidade imensa de entrega e liberdade àquele momento, escuto algumas risadas atrás de mim. Era o Mitch e a Amber que também aceitaram o convite do mar e saíram correndo. Nos abraçamos e ficamos jogando água para cima feito crianças. Depois de compartilhar tantos momentos de escuta e vulnerabilidade no treinamento, estávamos ali... livres, autênticos, despreocupados, e conectados.


Me lembrei desse momento hoje de manhã, quando me percebi com uma leve melancolia enquanto tomava o café quentinho e comia a crepioca com peito de peru e requeijão. “O que está acontecendo, coração?”, perguntei em silêncio para mim mesma. A resposta veio rápido... estava com saudade de quem está morando comigo. Mas como? Por que saudade? Se moramos juntas...

Nos colocamos tantas condições e obrigações para nos abrirmos para a conexão, já percebeu?

“Tenho que ir logo arrumar o café da manhã, senão não estarei cuidando da maneira que deveria”.

“Tenho que desabafar menos sobre o trabalho, senão estarei sendo um peso”.

“Nossa, esqueci a meia no chão, o que será que ela vai pensar de mim?”

“Não queria mesmo ir no supermercado agora, mas se eu não for, não estarei sendo parceira”.

No meio de tantas lapidações que vamos nos fazendo, do que temos ou não temos que fazer, vamos nos afastando do que está vivo em cada instante, do que realmente queremos. E acabamos não notando os tantos convites de transbordar a vida em liberdade.

Não notamos o convite que o primeiro raio de sol que toca a nossa pele na manhã traz para nos nutrirmos de gratidão, o convite do gole quentinho de café ou a refrescância do suco de nos nutrir em presença e auto-conexão passa despercebido, e acabamos não nos lembrando de dar um abraço em quem acorda conosco com a intenção do ato revolucionário de nos conectarmos em liberdade.


Aceitação e pertencimento são necessidades que correm fundo.

Que a prática da Comunicação Não-Violenta seja um caminho para que possamos cuidar delas sem tantos custos. Para que andem juntinho da nossa autenticidade. Para vivermos um pouco mais devagarinho, de dentro para fora, livres... e conectados.


Autora: Jade Arantes

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